Descobri que não estava sozinha

Texto: Maria Olívia. Revisão: Isabela Oliveira. Foto: Camila Balthazar.

Há 4 anos, eu não imaginaria que minha vida tomaria um novo rumo…

Fiz uma USG (ultrassonografia) de mama pedida pela ginecologista já com uma suspeita de que eu poderia ter câncer, pois havia um carocinho do tamanho de um feijão na minha mama esquerda. No mesmo dia fiz uma biópsia que me causou muitas dores. Pensei que a dor passaria com o tempo, mas que nada! Ela só aumentava, junto com o tamanho do meu problema. Sozinha, liguei para uma amiga, e pedi para ela me encontrar na Rodoviária de Campo Grande, pois já não podia nem mover o braço, tamanha era a dor.

Parece que esse carocinho se rebelou e, na consulta seguinte – com o resultado da USG em mãos – ele havia se desenvolvido de tal maneira que se apresentava do tamanho aproximado de um limão. No dia de saber o resultado, não esperava  que a doutora me dissesse ali, naquele momento, que eu estava com câncer de mama. Saí de lá com uma biópsia na mão e uma bomba na cabeça, sem saber o que fazer. Nesse dia, fui acompanhada da mesma amiga.

Não sei se era o tal caroço que crescia rápido demais, ou se o bendito SISREG é quem andava para
trás. Foi um mês e meio aguardando o resultado da biópsia, três meses para me encaixarem em uma consulta
com o oncologista e mais seis meses para começar a quimioterapia, pois não poderia retirar o tumor sem fazê-
la. Nesse momento, o meu problema já estava do tamanho de um caroço de manga, visível, quente e avermelhado. Não conseguia sequer colocar o sutiã, tal era a dor que sentia.

Toda sessão de quimioterapia era a mesma coisa: no primeiro dia não me sentia tão mal, mas nos três dias seguintes eu não conseguia nem pensar em fazer a próxima. Sentia a boca amarga, ânsia de vômito, dores no corpo e pior, a
aparência logo começou a apresentar os sinais do tratamento. Meus cabelos começaram a cair, mas eu não podia desistir de viver se meu Deus me deu a maior oportunidade da minha vida, e quem sabe a última. Quando Deus nos dá uma oportunidade, temos que agarrá-la com unhas e dentes.

Essa batalha me serviu para entender que eu não estava sozinha. Meu filho e meus amigos abraçaram a minha causa como se fosse deles. Descobri que era amada antes e depois do câncer, com ou sem um seio. Em todas as sessões de quimioterapia aquela amiga citada lá atrás me acompanhava na ida, e outras duas iam nos buscar de carro. Nos meus piores momentos, a minha senhoria ficou sem o dinheiro do aluguel e ainda me alimentava, literalmente. Não me faltaram pessoas para me dar forças e sofrerem junto comigo, o que acho de suma importância nestes momentos. A presença da família e  dos amigos foi essencial.

Depois da minha cirurgia, uma filha que adotei há poucos anos me dava banho e fazia meu curativo. Foi então que comecei a perceber que, se eles estavam com tanta força para me ver viver, porque eu iria jogar fora a minha força? Fiz nove meses de quimioterapia e 29 dias de radioterapia antes de tirar a mama, mas nada disso me intimidou. Eu ia às festas com meu turbante, linda e maravilhosa.

Uma amiga me falou do Projeto Pérolas, aí sim eu ganhei mais uma leva de “amigas do peito”. O Projeto me fez ver que não sou a única e nem a que sofre mais (ou menos). Lá a gente se encontra, desabafa, se diverte, se ajuda física e psicologicamente. Recentemente, três de nós receberam a notícia de que ganhariam a reconstrução de mama. Um
sonho, o maior sonho de nossas vidas! Aí descobrimos que a primeira escolhida fez os exames e acharam mais dois tumores no mesmo local do primeiro. É um misto de desespero, angustia e tristeza pela nossa amiga.

Você então começa a se apalpar mais, a se perguntar mais “e se fosse comigo?”. Engole o choro, balança a cabeça, se prepara para dar forças à amiga, para que ela lute pela sua segunda recuperação. A Mel virou nossa mãe, o Projeto o nosso chão e as componentes uma família que não divide as contas bancárias, mas as contas da vida onde não existem limites, e o fundo nunca fica no vermelho.

Deus abençoe o Projeto Pérolas!