A vida depende da cor que damos a ela

Texto: Jane Portugal. Revisão: Isabela Oliveira. Foto: Mariana Machado.

Minha história com o câncer começou em 1993, aos 27 anos. Eu havia terminado minha graduação e, nessa época, morávamos em Goiânia: eu, meu marido e meus dois pequenos filhos – um menino de então três anos e uma menina de quase dois.
Após quatro cirurgias para retirar o tumor- que na época os médicos diziam ser um fibroma-, fui sentenciada a viver com ele. Segundo o médico, uma vez que quatro cirurgias não foram suficientes para a retirada total do tumor, o mesmo continuaria a crescer até o meu óbito.
Nesse momento, meu marido decidiu que viríamos para o Rio de Janeiro, nossa cidade natal, a fim de buscarmos um tratamento.

Foi um momento difícil porque eu não sabia da gravidade do problema, só meu marido. Tive que deixar para trás os meus planos e a vida que havíamos construído até ali. Quando chegamos ao Rio de Janeiro, já tínhamos a indicação de um médico do INCA. Ele nos atendeu e levou a lâmina do tumor para exame. Dias depois, tivemos a resposta sobre o tumor: era um rabdomiofibrosarcoma de partes moles, um tipo de neoplasia que ocorre principalmente nos tecidos, muito invasivo e estava no meu mediastino. Era resistente à quimioterapia e eu teria que fazer a radioterapia para tentar diminuir o tamanho. Fiz as sessões de radioterapia, mas o tumor não desapareceu.

Fui operada novamente. Foram mais de 17 horas de cirurgia. Meu braço esquerdo perdeu o movimento e a sensibilidade, perdi costelas, clavícula, parte do pulmão e musculatura do tórax. Meu corpo todo estava marcado. Fiquei 3 meses no CTI e quatro meses no hospital. Passei perto da morte, mas venci. Voltei para casa e tive que extrair forças pra continuar, e graças à Deus consegui. Minha família, meu marido e filhos me ajudaram muito. A maternidade me ancorou no meio disso tudo.

Após sete anos, tive uma recidiva e tive que passar pela amputação do braço esquerdo. Sempre falo que quem passa por tudo isso tem duas alternativas: sentar e chorar todas as perdas e tristezas ou olhar para tudo que ficou, entendendo que o ser humano é muito maior que a junção de cabeça, tronco e membros e decidir continuar a viver da melhor maneira possível. Essa foi a minha escolha e eu tenho certeza que foi a escolha certa.
A vida de cada um de nós depende da cor que damos a ela, e eu tenho colorido a minha- com o único braço que tenho- com as cores da fé, superação e felicidade, sempre.