Resolvi lutar com todas as forças

Texto: Christina Guedes.   Revisão: Isabela Oliveira. Foto: Carol Lá Lach.

Quero, com a minha experiência, poder ajudar tantas outra mulheres que se deixam vencer pelo medo. Não pensem na doença! Vivam um dia de cada vez. Quando descobri meu câncer, estava de megahair, fazendo planos para diminuir os seios e ainda me sentindo atraente aos 51 anos. Em abril de 2014, percebi que minha axila esquerda estava inchada. Fui apalpando e senti um caroço. Ao redor do seio não consegui perceber nada, mas foi o suficiente pra me deixar em pânico. Logo procurei meu ginecologista, que confirmou a existência de algo e, no mesmo dia, comecei a minha saga de exames. Foi tão duro esperar pelos resultados! Para mim, essa foi a pior parte de todas. Só meu companheiro e eu sabíamos, e passar pelo Dia das Mães com essa sentença de morte pairando sobre a cabeça foi muito difícil. Só chorava e me agarrei ainda mais na fé.

Quando os resultados chegaram e meu inimigo foi identificado, resolvi que tinha que lutar  com todas as forças e com o que fosse possível. Encarei a palavra que alguns nem têm coragem de pronunciar, compartilhei com família e amigos… eu mesma passei máquina zero quando percebi que doeria muito mais ver os cabelos saindo em cada escovação, a cada banho. Confesso que perder os cabelos, sobrancelhas e cílios abalou bastante a minha autoestima. Me olhava no espelho e não me reconhecia. Pensava então: essa sou eu pelo avesso, e vou tem que conviver com esse meu lado por algum tempo. Procurei passar pelo tratamento de uma forma bem leve, porque não queria que meus dois filhos sofressem. Aparecia, pela manhã, sempre com perucas diferentes: black power, ruiva, loira, lenços coloridos… não ficava sem eles nem para dormir, não queria que me vissem careca. Coisas de mulher vaidosa, como sempre fui.

Passei por dois anos de tratamento, engordei 10 quilos, fiquei sem meus cabelos e percebi que isso não é nada diante da graça de poder acordar todas as manhãs e recomeçar minha luta. Tive tantas demonstrações de carinho e solidariedade! Momentos de extrema felicidade e amor. Até madrinha de casamento fui nesse período! Procurava sempre passar serenidade e confiança em Deus de que tudo isso iria passar, e passou. Fiz quimioterapia, radioterapia, retirei a mama esquerda, perdi minha mãe com a mesma doença com a qual eu estava lutando… Tive que cuidar do meu companheiro com crise de diverticulite do meu filho de 14 anos que apresentou sintomas de síndrome de pânico. Tive que ser forte por mim e por eles. Hoje, não  me aborreço com nada… estou curada! Venci um tumor de mais de 12 cm e metástases na axila. Agora, aguardo pela reconstrução. Enquanto isso, vou participando de projetos com o Pérolas, que quer nos devolver a visão de mulher, e mulher poderosa! Agradeço a Deus por cada momento vivido, pois sei que me tornei uma pessoa melhor.