Sou do bem e vivo para o bem

Texto: Adriana Pereira. Revisão: Isabela Oliveira. Foto: Arquivo pessoal.

Eu só descobri uma parte do meu corpo quando perdi uma. Com a graça de Deus estou super bem sem dor, voltando aos poucos para as minhas atividades. E por incrível que pareça estou muito feliz, mesmo sabendo que eu não tenho a CURA. Porque, para mim, a cura está na minha cabeça. Me sinto saudável, e muito amada. Sou muito iluminada e sempre fui amparada, quando eu merecia ou não. Crédito com Deus.

Na UTI, fiz algumas combinações com Deus: pedi para voltar para o seio da minha família e me despedir de todos que eu amo, encaminhar a minha filha -que na época não estava preparada-, queria falar por mim mesma para a minha mãe o que estava acontecendo comigo enquanto eu estava na UTI.  Não deixei ela me ver e, assim que fui para o quarto, os médicos queria contar meu caso. Eu briguei sem poder falar, eu tinha o direito de contar para ela do meu jeito: calmo, simples e aqueles sorriso que só eu tenho!

Minhas palavras foram assim: Mãe, não te preocupes! Eu estou em uma negociação cerrada com Deus. Ele está me chamando para trabalhar no céu, mas conversei com ele e pedi para voltar pra casa. Pedi mais uns 15 anos, mas infelizmente não vai dar. Creio que uns oito eu aguento firme. Então, minha mãe me disse: O que tu tem? Não me esconde nada. E eu respondi: estou com câncer em um estágio muito avançado. Nem eu acredito na tranquilidade com que falei com ela. Horas antes eu queria matar até os médicos, chorava sem parar e chamei minhas amigas e pessoas que eu amo para dizer que iria morrer a qualquer momento, mas Deus me guiou.

Fui mandada duas vezes para casa para me despedir dos meus amores. Emagreci 20 quilos, vomitei demais e senti dores absurdas. A gente pira! Além do câncer, tive uma insuficiência renal aguda e fui entubada. Foram tantas agulhadas que parecia um filme de terror, só mesmo Deus para segurar na nossa mão. Vi e escutei pessoas rindo de mim e me criticando, dizendo: Porque tu não foi ao médico? E não teve um hospital em Porto Alegre que eu não tenha ido, até consulta particular paguei. Sou muito cuidadosa com minha saúde e não tenho culpa de ter um câncer raro. Não escolhi vivenciar isso, não deixei de trabalhar porque quis. Mas se teve que ser assim.

Eu escolhi fazer um tratamento paliativo. Não quis uma sobrevida longa mas, sim com qualidade. Eu só faço o que gosto, só falo com quem eu quero, só como o que gosto, e não uso mais relógio porque o tempo para mim não existe. Se eu acordar disposta, convido minha família para viajar e viajei muito, como nunca havia feito. Fiquei mais corajosa! Eu vivo e amo a vida, independente do que venha a acontecer comigo, pode ter certeza que eu estou realizada como pessoa. O câncer apenas tira as máscaras das pessoas que nos rodeiam: é o lado bom de tudo isso! Percebi o quanto sou importante para muitas pessoas! Recebo muitos abraços e carinho na rua, as pessoas rezam por mim e azem grupo de oração pela minha saúde. Sou do bem e vivo para o bem ❤