Amanhã será melhor que hoje!

Texto: Jussara Matias. Revisão: Isabela Oliveira. Foto: Mariana Machado.

Meu nome e Jussara Matias, tenho 45 anos. Sou casada e tenho dois filhos. Antes de descobrir o câncer, eu trabalhava como inspetora de um colégio, estava me formando em professora. Já era formada em estética e exercia essa profissão paralelamente.  Foi em 2014 que descobri que estava com câncer. Quando recebi essa notícia, perdi o chão. Passavam tantas coisas na minha cabeça! Como assim câncer? Na minha família não tem histórico de câncer!  Foi muito difícil, chorei muito e fiquei ensaiando no caminho do hospital atá a minha casa como contaria para os meus filhos e para minha mãe; nessa época eu estava separada. Depois que descobri o câncer, meu esposo retornou para casa, mas foi embora novamente após 7 meses, para minha tristeza.

Então começou a correria para realizar vários exames, a fé para conseguir uma vaga no INCA… A principio não queriam me aceitar, pois eu já tinha uma cirurgia na axila e eles não aceitam pacientes que já tenham realizado procedimentos cirúrgicos em outros hospitais. Essa cirurgia foi para realizar a biopsia: só a punção não foi satisfatória e houve a necessidade de internação para retirada de amostras. Mas, ao final de uma maratona no INCA, consegui com que eles me aceitassem. O tipo de câncer que tive chamou muito a atenção dos médicos. Segundo eles, ainda não tinham visto um câncer em um resto de retirada de uma terceira mama -localizada à direita-. Ela tinha bico e todas as vezes que eu menstruava, crescia. Tive minha primeira consulta no dia 21-07-2014. Fiz toda a triagem necessária, e alguns exames foram pagos. Dias depois, a cirurgia foi marcada e realizada com sucesso. Logo em seguida começaram as sessões de quimioterapia: 8 sessões, sendo 4 vermelhas e 4 brancas, e também radioterapia.

Uma vez, uma enfermeira me disse: Dona Jussara, essa doença é maldita, mas ela te trará muitas coisas boas. Hoje a senhora não entende, mas daqui a um tempo vai entender. Achei estranho mas guardei essas palavras, e vou levá-las para o resto da minha vida. Agora, faço uso do tamoxifeno e, segundo os médicos, terei que usá-lo durante 10 anos. Após algum tempo de operada, comecei a sentir dores fortes no braço. Foi resultado da cirurgia, porque mexeram em tendões, nervos, etc. Uso gabapentina 400mg  4x ao dia para o alivio das dores, estou em acompanhamento na clinica da dor no INCA 1, e fiz algum tempo fisioterapia no INCA 3,  onde tive o encontro com o Projeto Pérolas. Esse Projeto fez uma grande diferença em minha vida. A partir desse encontro o meu círculo de amizades aumentou, encontrei mulheres que tiveram a mesma experiência que eu: mulheres que conseguem se entender. Nos comunicamos pelo whatsapp e em encontro mensais, dividimos alegrias, tristezas e conquistas umas com as outras. Se alguém está triste, todas ajudam dando palavras de incentivo. Nesse projeto contamos com auxilio de psicólogas, fisioterapeutas e temos até ensaios fotográficos. Quero aproveitar para agradecer à Mel, esta pessoa extraordinária, a idealizadora e realizadora desse projeto, esse ser humano lindo que se dedica a ajudar mulheres com diagnóstico de câncer e que abre mão do seu tempo para ir em busca do bem para as suas amadas Pérolas. PROJETO PÉROLAS, PROJETO TRANSFORMADOR DE VIDAS!

Louvo a Deus por ter me dado forças para suportar pois, como eu disse, meu marido foi embora novamente e me deixou com dois filhos e endividada, no meio do tratamento. O que me ajudou nesse processo foram pessoas excelentes que ficaram ao meu lado: minha mãe, meus filhos e um grupo de jovens da igreja que não me deixaram sozinha. Dentre eles, uma jovem se destacou muito. Ela me escreveu cartas todos os dias até o fim do tratamento e tinha uma frase que ela sempre dizia nas cartas: “AMANHÃ SERÁ MELHOR QUE HOJE”. Até hoje guardo essas cartas com muito carinho.

Agora entendo o que aquela enfermeira disse. Passei por um momento difícil, minha vida ainda não voltou ser a mesma. Tenho algumas restrições, como não exercer trabalhos domésticos devido ao tamoxifeno, por exemplo. Mas mesmo assim estou feliz. Meu casamento foi restaurado, vivo muito bem com a minha família e vejo a vida de uma forma mais positiva. Me tornei uma pessoa melhor e agarro essa oportunidade de ter tido uma segunda chance!

O maior valor da vida não e o que você obtém, o maior valor da vida é o que você se torna. Este é o resumo da minha vida.