Quando tem que dar certo, até o que dá errado ajuda

Texto: Daniela Silva. Revisão: Isabela Oliveira. Foto: Luciane Luppi.

Há quatro anos atrás, eu tinha uma rotina bem agitada. Cuidava do lar, da família, estudava, criava minhas peças de artesanato e ajudava quem visse na frente, pois me sentia invencível. Eu trabalhava muito. Até que de repente, senti dores em minhas costas e, curiosamente, não melhorava com analgésicos. Com isso, decidi fazer caminhadas por minha conta, pois tinha receio de ser problemas cardiovasculares, já que sou de família de hipertensos.

Um belo dia, fui me pentear em frente ao espelho e vi minha axila inchada. Não perdi tempo: fui no primeiro posto de saúde que vi na minha frente. Sofri muitas omissões sobre meu diagnóstico em algumas clínicas que fui. Até que, com apoio de meu esposo, consegui ser atendida em uma clínica particular em Botafogo. Uma “anja-médica” chamada Débora me deu a notícia que nunca imaginei que pudesse receber um dia, ela dizia que se tratava de um tumor maligno.

Pra mim, foi como ela falasse: “ACABOU, VOCÊ MORREU!” Chorei desesperadamente durante cinco minutos. Ela não queria fazer a punção, mas eu pedi para que ela fizesse na esperança de que aquilo tudo tinha sido um erro. Toda a minha vida passou na minha mente em segundos. Prendi o choro e pensei: a mãe do Jonathan (meu filho) não pode morrer, ele é muito jovem para perder a mãe. Logo em seguida fui encaminhada para o Hospital Federal dos Servidores. Logo após, meu esposo -desesperado- me levou à praia para conversar com Deus. Me senti calma, com a sensação que tudo já tinha dado certo.

Dia 13 de junho de 2014 – acompanhada do meu filho- recebi o diagnóstico: carcinoma lobular infiltrante e invasivo triplo negativo. Se tratava de um câncer raro, com alto índice de mortalidade. Minha vida mudou! Foram muitos exames físicos; estagiários pediam para tirar fotos do meu seio. Eu enxergava o desespero no semblante de muitos médicos. Iniciei o tratamento com quatro sessões de quimioterapia vermelha, e perdi todo meu cabelo com 21 dias. Fiz quatro sessões de quimioterapia branca, e no dia 15 de janeiro de 2015, passei por uma mastectomia radical com retirada de 16 linfonodos. Consegui voltar da anestesia geral gritando: Eu não quero morrer!

Em abril de 2015, fiz 25 sessões de radioterapia da profunda. A partir daí, eu estava radiante querendo viver e curtir, mesmo com pouco cabelo, mutilada, queimada e envenenada. Para mim, se tratava de um renascimento. Em novembro de 2015 tive a recidiva e iniciei um novo tratamento com quimio oral, tomando 6 comprimidos ao dia. Após 4 meses, surgiram mais cinco nódulos em meu pescoço: foi quando meu médico me encaminhou imediatamente para a quimioterapia injetável.

No dia 31 de outubro fiz o exame de rotina – tomografia – e fui surpreendia com mais uma adversidade: um problema com meu cateter, que estava em uma região errada em meu coração. Fiz mais uma cirurgia para corrigir. Faço quimioterapia até hoje, já são três anos. Mesmo diante de tantos desafios, sempre procurei me manter com a alma alegre. Só que tinham momentos em meu deserto que eram difíceis de atravessar. Porque é assim mesmo, por mais que tenhamos apoio, às vezes nos sentimos só. Mas, quando algo tem que dar certo, até o que dá errado ajuda!

Quando estou triste, gosto de criar. Na rotina de meu trabalho, fui pesquisar preços de pérolas e foi assim que achei o Projeto Pérolas, por acaso. Visualizei a logo de um rosto feminino que chamou minha atenção, vi que a proposta do projeto era ideal para mim, e enviei uma mensagem para a Mel Masoni dizendo que ficaria muito feliz em fazer parte do grupo. O Projeto Pérolas é importante para nós que temos câncer porque, em primeiro lugar, nos acolhe com carinho, respeito… Nos ensina a resgatar a nossa autoestima – que normalmente é perdida durante o tratamento.O Projeto foi fundamental para mim porque uma mulher ajuda a outra, e isso faz com que tenhamos força para lutar e, consequentemente, vencer. O Projeto Pérolas simboliza união, amor e alegria. Sinto muita gratidão de fazer parte!