Sorrir ainda é o melhor remédio

Texto: Cláudia Araújo. Revisão: Isabela Oliveira. Foto: Bárbara Montarroyos.

Meu nome é Cláudia Araujo e tenho 42 anos. Tenho um filho de 14 anos, e trabalho como auxiliar de escritório em uma pequena transportadora. Descobri o câncer em 2011. Já suspeitava da existência dele, mas mantinha aquele pensamento de que “comigo nunca irá acontecer”. Fui em um médico particular, fiz ultrassom e mamografia por sentir um caroço próximo ao bico da mama direita. O médico não me falou absolutamente nada! Só me mandava fazer os exames, sem explicar.

Com o passar dos meses, consegui um novo emprego no Rio de Janeiro, e estava me dedicando a isso. Um “belo” dia, esse mesmo bico começou a coçar sempre e a sangrar. Achei que era alergia, falei com uma amiga que fazia estágio no hospital municipal da minha cidade, e fui para a emergência. Chegando lá, a ginecologista me atendeu super bem e me encaminhou para o mastologista na mesma semana. Quando cheguei até ele com a mamografia de meses atrás – pedida por aquele médico que não tinha me informado nada-, ele me falou na hora: você esta com um câncer de mama, vamos fazer uma biópsia.

Fiquei surpresa, mas não chorei. Fiz todo o procedimento que ele me indicou e levei o exame em um laboratório particular, onde o resultado sairia mais rápido. Após 15 dias de espera, veio a confirmação.  Eu tinha câncer, e a chamada doença de Paget, uma doença rara que atinge mulheres com mais de 55 anos. Na época, eu tinha apenas 36 anos.

Após a operação, feita no dia vinte e oito de fevereiro de 2012, fui pra casa, me olhei no espelho e falei, rindo: como você tá feia! Eu ria de mim mesma, mas tive o apoio das minhas amigas e da minha família. Lembro que meu pai -hoje falecido- chegou na porta do meu quarto e não quis entrar, com medo de me ver. O avô paterno do meu filho -também falecido- chorou quando foi me visitar. Enfim, eu alegrava mais as visitas do que elas a mim.

Tive um anjo em minha vida: uma amiga -que hoje tem o mesmo problema que eu- que naquele momento não mediu esforços para estar ao meu lado na hora em que recebi a notícia e no dia em que fiz a biopsia. Ela continuou ao meu lado, sempre ligando para saber de mim. Cada amiga fazia sua parte. Durante todo o ano em que fiz a quimioterapia, uma delas levava frutas aos domingos pra mim. Todos os domingos, sem faltar nenhum. Ela me ajudou muito com valores em dinheiro, camisola nova -por eu estar acamada-, e até minha prótese de silicone ela comprou. A essas pessoas, somente Deus pode recompensar por tanta dedicação e carinho. Uma outra amiga saiu de muito longe e foi até o hospital me ver. Estar internada, abrir os olhos e ver sua amiga do lado da sua cama, mesmo que apenas por alguns minutos, não tem preço.

Foram trinta dias de repouso absoluto até ir para a oncologia. Lá, uma médica maravilhosa disse: em duas semanas seu cabelo vai cair. Não me abalei, e fazia escova no cabelo todo final de semana. Em abril de 2012, meu cabelo começou a cair, de fato. Cortei curto, mas não teve jeito: tive que raspar a cabeça. Foi a cabeleira que já cuidava do meu cabelo que raspou, chorando. Naquele dia, fui pra casa tensa. Me olhei no espelho, e chorei. Foi nesse momento que a ficha de que eu estava doente caiu. Meu filho -na época com oito anos- me olhou com os olhos cheios de lágrimas, e disse: mãe seu cabelo vai crescer!

Todos os dias eu pedia a Deus que não me deixasse derramar lágrimas por causa do câncer. Eu não queria ficar deprimida. A pior fase é a quimioterapia. Passava muito mal! No meio do caminho do meu tratamento, o namorado que estava comigo há três anos foi embora, e me deixou. Chorei sim, mas em uma semana eu já estava na rua com as amigas, rindo e brincando. Um mês depois, eu já estava com outro namorado. Estava quase careca – pois o cabelo cresceu pouco- e com um peito só, mas ele me aceitou da forma como eu estava e estamos juntos até hoje.

Um dia, navegando pelo Facebook, vi um post perguntando quem gostaria de fazer um ensaio fotográfico. Entrei na página e olhei as fotos. Uma delas me chamou muito atenção: a da Jane. Fiquei maravilhada com aquelas fotos e fiz contato com a Mel, que é um anjo. Contei rapidamente minha história, mas não acreditei que ela iria retornar o contato. Mas ela retornou e, em julho de 2016, fiz o meu ensaio. Aquele foi um momento mágico mesmo! Me senti importante, me senti mais mulher, bonita e poderosa. Vi que existem outras mulheres com mesmo problema que eu, e percebi que a vida não para por causa de uma doença: é apenas um dos momentos difíceis dela.

Depois de quatro anos, em outubro de 2016, consegui fazer a reconstrução mamaria pelo SUS.  Em maio de 2017, diminui a outra mama e, em outubro do mesmo ano, fiz a tatuagem da aréola através do Projeto Pérolas. Tudo em seu tempo certo.

Passei por tudo isso de cabeça erguida, não fiquei em depressão e hoje estou pronta pra ajudar você que pode estar passando por algo parecido com o que eu passei. O Projeto nos dá força, nos une. Me fez descobrir que existe amor ao próximo sim e que se quisermos, podemos fazer muita coisa um pelo outro. Além de toda ajuda psicológica que temos, somos muitos beneficiadas com o fato de estarmos juntas, conversando e trocando experiências.

Obrigada Mel, por eu ser uma Pérola. Obrigada por me fazer enxergar que eu sou uma Pérola. Porque, para mim, sorrir ainda é o melhor remédio.